A Separação dos Amantes...

"... e minha alma não podia viver sem ele... Com que dor se ensombreou meu coração! Tudo o que via era morte para mim... E tudo o que o lembrava transformava-se para mim em crudelíssimo martírio. Cheguei a odiar todas as coisas, porque nada o continha... Tornei-me para mim mesmo um grande problema, perguntando à minha alma por que estava triste e me conturbava tanto, e ela não sabia o que responder-me." (Confissões de Santo Agostinho)

A saudade é um bichinho que rói e rói... e dói, de verdade!
Dizem ser antiquado viver de passado, mas se ele faz parte da vida, porque não ter presságios nostálgicos de vez em quando?
Tem coisa mais gostosa que lembrar das "bobiças" de infância? Aliás, esses dias recordei-me de minhas brincadeiras ainda na Fazenda Boa Esperança, quando montávamos casinhas sobre as árvores, ou corríamos pelo terreirão. E a canoa de bambu no lago?
E todos sobrevivemos! Com todas as partes do corpo intactas, por incrível que pareça!
Há, no entanto, uma coisa ruim da saudade que parece não querer nunca "dormir pra sempre".
Igor Caruso no seu estudo intitulado "A Separação dos Amantes", sobre esta como uma fenomenologia da morte, diz: "Uma das mais dolorosas experiências na vida humana - e talvez a mais dolorosa - é a separação definitiva daqueles a quem se ama".
Caruso delimita seu raciocínio sobre a separação de pessoas que ainda estão vivas, separação de pessoas que ainda se amam, separação dentro do nosso contexto cultural, separação definitiva e a separação bilateral (quando há consentimento de ambas as partes na iniciativa da separação). Todas elas passíveis de morte!
Morte? Sim! A morte não precisa ser física para ser chamada morte. Um amor que se foi e nas memórias  há lembranças causa dor. Essa dor somente terminará quando a morte fizer parte do processo. Mas é precisso completar o cerimonial, permitindo o enterro. Ficam ali as memórias que o tempo encarregará de diminuí-las ao ponto de somente haver resquícios. Eles não causarão mais dor! Serão passado, enterrado!
O cristianismo autêntico revela que há vida na morte:  embora passemos um tempo distante dos que amamos, estaremos juntos, na glória. Isso causa em nós conforto.
Ainda que as filosofias e religiões já apresentem respostas prontas, que servem de proteção nos momentos de perigo, especialmente quando surge a ameaçadora pergunta sobre o sentido dessa perda, no pensamento cristôcentrico a esperança está no reencontro. E não somente da morte consumada, mas das possibilidades dos milagres.
A saudade tem seu jeitinho na nossa vida. Ela alimenta uma expectativa boa, mesmo que os olhos não mais vejam o objeto desse sentimento. Ela nos acalenta, de alguma forma.
E hoje eu tenho saudade da Miúcha. A Miúcha está bem, me parece feliz, e está tão longe quanto perto. Posso vê-la, ouvi-la, mas não a tenho o tempo todo. Ela me dá saudade de meu pai.
E hoje eu tenho saudade de meu pai. Homem de personalidade, mas que me ensinou as coisas práticas da vida.

Essa é a saudade, que é boa e é ruim, mas existe...

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Eu sou o que sou.. nem muito, nem pouco. Atleta de marcha atlética. Teóloga. Presidente do Metahum. Professora. Blogueira quando o tempo dá... Tá ótimo!

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"Um homem pode falsificar o amor, pode falsificar a fé, pode falsificar a esperança e todas as outras virtudes, mas é muito difícil falsificar a humildade". D.L. Moody

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