A Conspiração Divina
set
23
A fé de código de
barras
Pense
nos códigos de barras hoje usados nos produtos da maioria das lojas. O scanner
lê somente o código de barras. Pouco importa o que há na garrafa ou na
embalagem, ou se o adesivo está no item "certo" ou não. A máquina da
caixa lê com o seu olho eletrônico somente o código de barras e
desconsidera completamente o resto. Se o código de barras do sorvete está na
ração do cachorro, a ração do cachorro é sorvete, pelo menos para o scanner.
Num recente programa de rádio, um
eminente ministro passou quinze minutos reforçando a idéia de
que a "justificação", o perdão dos pecados, não opera nenhuma
mudança no coração ou na personalidade da pessoa perdoada. É, insistia ele,
algo totalmente exterior a você, localizado totalmente no próprio Deus. A sua
intenção era enfatizar o conhecido argumento protestante de que a salvação vem
somente da graça de Deus e é absolutamente independente daquilo que possamos
fazer. Mas o que ele disse na verdade foi que ser cristão nada tem a ver
com o tipo de pessoa que você é. As implicações dessa doutrina são colossais.
A teologia das quinquilharias cristãs
diz que há algo no cristão que funciona como o código de barras. Um ritual, uma
crença ou a associação a um grupo impressiona a Deus da mesma forma como o
código de barras impressiona o scanner. Quem sabe um momento de concordância
mental com um credo, quem sabe a decisão de entrar para uma igreja. Deus
"escaneia" o fato e logo jorra o perdão. Uma certa medida de justiça
passa da conta de Cristo para a nossa no banco do céu, e todas as nossas
dívidas são pagas. Somos, assim, "salvos". A nossa culpa é apagada.
Como não seríamos cristãos?
Para alguns grupos cristãos a
"conta" tem de receber constante manutenção para manter pagas as
dívidas, pois realmente não somos perfeitos. Para outros - alguns
grupos fortemente calvinistas - toda a dívida do passado, do presente
e do futuro já está paga na leitura do scanner. Mas a coisa essencial em
qualquer dos dois casos é o perdão dos pecados. E a compensação pela fé e por a
pessoa ter sido "escaneada" vem na morte e no
além. A vida que se vive agora não tem uma relação necessária com o fato de ser
cristão, desde que o "código de barras" faça o seu papel.
Vemos por aí muita discussão a
respeito do que fazem e não fazem os bons cristãos. Mas logicamente não
é necessário ser um bom cristão para ser perdoado. Esse é o ponto
principal do código de barras, e está correto.
0 comentários:
Postar um comentário